Sem fundo
A crise econômica agravada pela pandemia colocou milhares de brasileiros em situação penosa. Enquanto alguns comprometem o salário todo em dívidas, outros sequer dispõem de condições para garantir refeições diárias. Este retrato devastador destoa da vida levada por políticos, cujas mordomias são bancadas por dinheiro público. Com a verba do fundo partidário, abastecido por dinheiro do contribuinte, políticos viajam em jatos exclusivos, hospedam-se em hotéis cinco estrelas e se fartam à mesa. As prestações de contas entregues à Justiça Eleitoral pelas 33 siglas do país entre o final de junho de 2021 e o início deste mês revelam que, ano passado, elas torraram R$ 811,4 milhões. A bolada está longe de ser empregada com “racionalidade” ou sob o princípio da moralidade.
Campeão de gastos, com R$ 110,1 milhões em despesas, o PT, por exemplo, usou R$ 498 mil para levar Lula ao Nordeste em um jato Challenger, com capacidade para 12 pessoas. O ex-presidente voou na aeronave em agosto do ano passado, quatro meses após o Supremo Tribunal Federal derrubar todas as condenações dele na Lava Jato e torná-lo elegível.
O PL, de Jair Bolsonaro, não fica atrás em termos de abuso do dinheiro público. Com R$ 19,8 milhões em despesas financiadas pelo fundo partidário, a sigla capitaneada por Valdemar Costa Neto recorre a brechas da lei para fazer girar dinheiro entre suas contas.
Em 2022, a tendência é de ampliação das despesas custeadas pelo caixa, que, vale destacar, é diferente do fundão eleitoral de R$ 4,9 bilhões. Até a semana passada os partidos já haviam informado gastos de R$ 398,1 milhões ao TSE. Os números, porém, não refletem a realidade, já que um terço das siglas ainda nem entregou os dados parciais à Justiça. O prazo é extenso. A conclusão do processo de prestação de contas pode ocorrer até junho do ano que vem. No meio tempo, o dinheiro escoa pelo ralo, sem passar pelo escrutínio da população. Esta é a realidade dos gastos políticos com verbas públicas, um verdadeiro saco sem fundo.