Léo Condé visita Poços de Caldas e relembra campanha histórica do vice em 2015
Poços de Caldas, MG – Oito vitórias, seis empates e apenas uma derrota. Cinco gols sofridos em 15 jogos, 19 marcados. Em 2015, a Caldense fez uma campanha espetacular no Campeonato Mineiro. O time era dirigido por Leonardo Rodrigues Condé, o Léo Condé, e jogava por música. As atuações eram convincentes, os adversários se rendiam ao bom futebol e o título era certo, só não viria em caso de um acidente de percurso. Poucas vezes um time do interior fez um campeonato tão perfeito e chegou na decisão como favorito como a Caldense. Mas o acidente de percurso aconteceu e numa final disputada contra o Atlético Mineiro, na cidade de Varginha, com um gol impedido do Galo, o título não veio. Mas o time de Condé ficou na história e será lembrado para sempre como aquele que foi campeão do Campeonato Mineiro de 2015.
Esta semana o personagem principal daquele time esteve em Poços de Caldas. Léo Condé passou um período de férias na cidade e recebeu muito simpaticamente a reportagem do Mantiqueira no hotel em que estava hospedado. A conversa rendeu e além da entrevista foram revividos momentos daquele ano inesquecível. Hoje, aos 44 anos, Léo Condé não renovou com o Sampaio Corrêa e está sem time. A opção de encerrar o vínculo foi dele próprio, que quer ficar com a família.
Mantiqueira – Como explicar aquela máquina de jogar futebol? Como explicar aquela campanha?
Léo Condé – Primeiramente quero dizer que voltar a Poços de Caldas me deixa muito feliz, uma cidade que está no meu coração e vim passar uns dias com a família aqui. Gosto muito da cidade e principalmente da Caldense, das pessoas que fazem este clube e dos torcedores de uma forma especial. Realmente aquele time marcou um momento muito importante da minha carreira. Tudo começou em 2014, mas a temporada de 2015 ficou marcada, inesquecível. Com o time montado junto com o Alex Joaquim, que era o gerente de futebol, Franco Martins, diretor de futebol, e o Laércio Martins, presidente, que Deus o tenha, conseguimos fazer uma campanha que com certeza ficou marcada não só para o torcedor da Caldense, mas também pra mim. Foi especial ter o prazer de dirigir aquela boa equipe numa campanha fantástica, desde a pré-temporada a gente sabia que o time daria liga, fizemos grandes jogos contra equipes do interior de São Paulo, conseguimos bons resultados. Durante todo o campeonato a equipe conseguiu se apresentar bem, conquistando vitórias épicas na primeira fase, goleando por 6×1 o Mamoré logo no primeiro jogo, depois ganhou do Atlético, conseguindo vitórias expressivas fora de Poços de Caldas até conquistar o título do interior eliminando o Tombense e por fim aqueles dois grandes jogos contra o Atlético. Impossível esquecer o Mineirão lotado no primeiro jogo, sessenta mil torcedores, todo mundo imaginando que a gente iria lá só para participar da festa, no entanto, foi o contrário, fomos realmente para fazer frente ao Atlético e conquistamos um grande resultado. Foi uma pena não conseguirmos trazer o jogo decisivo para Poços de Caldas, seria um presente para todos, mesmo assim me lembro com muito carinho a invasão da torcida da Caldense em Varginha e fizemos aquele jogo brilhante na final. Infelizmente um erro de arbitragem nos custou aquele título que coroaria aquela brilhante campanha.
Mantiqueira – Em que momento daquela campanha você achou que era possível brigar pelo título?
Léo Condé – Teve um jogo que marcou muito, que foi diante do Cruzeiro em Belo Horizonte. O Cruzeiro vinha da conquista do bicampeonato brasileiro com o Marcelo Oliveira e jogaram completos contra nosso time no Mineirão, se preparavam para a Libertadores e nosso time jogou de igual para igual com eles, foi 1×1, mas aquele jogo foi muito disputado e tivemos chances de vencer. Ali ficou claro que faríamos uma grande campanha. Passadas algumas rodadas pegamos o Atlético em Poços e vencemos por 1×0, golaço do Cristiano, eles também se preparavam para a Libertadores, vieram completos e vencemos com propriedade. Foram dois momentos que nos mostraram que a equipe tinha condições de brigar por uma final.
Mantiqueira – O que destacar naquela campanha?
Léo Condé – É difícil apontar um fator específico. Para conseguir bons resultados no futebol é preciso de uma série de situações. Muitas vezes o fracasso vem na mesma intensidade. No Brasil temos o costume de apontar o culpado por situações, principalmente no futebol, e às vezes não existe culpado e sim uma série de fatores. Na vitória também. No caso daquele time acredito que a boa relação que a gente tinha com a direção do clube, uma boa comissão técnica, até hoje o Renatinho trabalha comigo como auxiliar técnico, outros profissionais como o Caldiron, enfim, conseguimos montar uma comissão técnica competente. Foi fundamental a escolha dos atletas, a Caldense já tinha uma base com o Maradona, Andrezinho, Paulão, Luiz Eduardo e eu consegui trazer nomes como Cristiano, Nadson, Marcelinho, Plínio, atletas que já tinham trabalhado comigo e conseguimos uma escolha boa de atletas e tudo favoreceu para um bom ambiente. Os atletas se fecharam, até hoje eles conversam. E depois veio o principal fator que foram os resultados que foram ajudando na união da equipe, tirando a desconfiança um do outro. Claro que a estrutura oferecida pelo clube é fundamental, boas condições de trabalho, um ambiente legal, tudo muito funcional, um clube muito correto, muito honesto. Como profissional do futebol só tenho a falar bem. Já trabalhei em vários outros clubes e na Caldense, onde passo, sempre falo bem.
Mantiqueira – Como foi o futebol para Léo Condé depois de deixar Poços de Caldas?
Léo Condé – Até então tinha trabalhado só em Minas. Fiz dois campeonatos cariocas, mas minha carreira foi toda desenvolvida no futebol mineiro. A Caldense foi o time que me abriu portas para trabalhar em outro mercado. Destaco o mercado paulista e o Nordeste. Trabalhei também no Goiás e no Paysandu. Logo após minha saída da Caldense recebi o convite do Sampaio Corrêa e me tornei o treinador que mais dirigiu o Sampaio Corrêa em três passagens por aquele time, onde conquistei dois títulos estaduais e três melhores campanhas na Série B do Brasileiro. Este ano a gente ficou em quinto lugar e não subimos para a Série A por apenas quatro pontos. O pós-Caldense foi o Sampaio Correia, que me marcou muito, muito importante. Tive boa passagem pelo CRB onde fui campeão alagoano, no Botafogo de Ribeirão Preto, clube que dirigi no seu centenário, fizemos uma campanha muito bacana no Paulista. Eliminados nos pênaltis pelo Santos na Vila Belmiro, depois conquistamos o acesso para a Série B e mais recente uma passagem bem bacana pelo Novorizontino, conquistamos o título do interior paulista de 2021 e o acesso da C para a B. Naturalmente, no futebol brasileiro, mesmo depois de boas campanhas, quando você dá uma “rateada” as coisas não acontecem e acaba tendo a mudança de treinador. Ao mesmo tempo o mercado vai acompanhando nosso trabalho. Devo isso tudo à Caldense graças à campanha de 2015 que abriu portas para que eu pudesse trabalhar em outros mercados.
Mantiqueira – Sem clube, o que o Léo espera agora? Alguma proposta?
Léo Condé – O Sampaio é um clube pelo qual tenho um enorme carinho, gosto muito de trabalhar lá, porém, neste momento fiz a opção de ficar um pouco mais próximo da minha família, a profissão é muito legal, mas pagamos um preço um pouco alto que é ficar longe dos filhos e precisava deste momento de ficar mais próximo. Não renovei com o Sampaio, quero ficar em casa e depois vou voltar para a estrada novamente, já que somos profissionais e precisamos trabalhar.
Mantiqueira – E esta amizade com o Renatinho?
Léo Condé – Conheci o Renato aqui na Caldense e desde aquele trabalho em 2015 ele vem me acompanhando, formamos uma parceria muito bacana, ele tem a experiência dele como ex-atleta e temos uma sinergia boa tanto no trabalho como fora de campo. Ainda mantenho contato também com o Alex Joaquim, ótimo profissional, foi a pessoa que me abriu as portas e tenho muita gratidão por ele, assim como pelo Franco e pelo Laércio, enfim, minha ligação com Poços desde aquele momento ficou muito forte.
Mantiqueira – Léo Condé volta um dia para a Caldense?
Léo Condé – Tudo nesta vida é possível. A Caldense hoje está em muito boas mãos, o Gian Rodrigues é um ótimo treinador, um grande profissional, a gente está sempre torcendo pela Caldense. Claro que o futebol é feito de momentos e no meu momento de carreira pretendo abrir outros mercados, mas tudo é muito dinâmico e no futuro pretendo sim voltar a dirigir a Veterana, tenho muito carinho pelo clube e por tudo que vivi aqui. Hoje o clube está muito bem servido de treinador e tenho certeza que estarei na torcida para que faça um grande Campeonato Mineiro. Desejo que a Caldense possa alcançar outros patamares no futebol nacional e que suba de divisão. Poços de Caldas merece um time em uma divisão maior, as pessoas aqui gostam de futebol, o clube tem uma marca forte.
Mantiqueira – Como você está vendo o futebol brasileiro? E os Estaduais? Devem acabar?
Léo Condé – Na questão da seleção, vejo muito a geração de jogadores. Em 2002 a gente tinha três caras que desequilibram, que eram o Rivaldo e os dois Ronaldos. 94 tinha Romário e Bebeto. Depois deste momento tivemos a Espanha com uma grande geração em 2010, a Alemanha muito forte em 2014 e a França está muito forte. A Argentina tem uma geração muito próxima ao Brasil, mas o que fez a diferença é que nosso craque [Neymar] se machucou logo no primeiro jogo e o craque deles [Messi] fez uma Copa extraordinária. Isso fez uma diferença muito grande. Vamos procurar mais uma vez um culpado, normal, acontece no futebol. Tomara que apareça um atleta extraclasse, estamos carentes disso. Já em relação ao futebol brasileiro como um todo acho que estamos atingindo um nível muito bacana, os campeonatos nacionais estão muito bem estruturados. Sobre aos Estaduais, é um campeonato que faz parte de nossa cultura, não pode acabar. É um campeonato que serve de trampolim para apresentar vários jogadores e treinadores. Eu mesmo, se não tivesse aparecido num campeonato estadual talvez não teria tido as oportunidades que tive nos últimos sete anos. Acho que ele tem que ser ajustado no calendário, começar um pouco antes com os clubes de série C e D e depois entrar os demais de séries A e B. Acho que esta decisão já passou da hora de ser tomada pelas federações e pela CBF.
Mantiqueira – Série A. Um sonho próximo?
Léo Condé – A gente trabalha para que isso aconteça o quanto antes. Treinador de futebol é uma profissão muito instável, não tem uma coisa muito linear. Depende muito das campanhas, dos clubes enxergarem o profissional, mas tenho certeza de que está chegando o momento, não fico ansioso. A cada ano que passa tento melhorar, me aprimorar para chegar bem preparado quando tiver a oportunidade. Acredito que nestes mais de 20 anos como treinador com certeza estarei bem preparado quando a oportunidade bater na porta.
Paulo Vitor de Campos
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