O monotrilho PRECISA ser demolido

Alvaro Ely Monteiro Vilela*

Com todo o respeito por quem pensa diferente, sinto-me no dever de alertar os nossos dirigentes quanto a alguns pontos que considero fundamentais:

1. O projeto original do monotrilho de Poços de Caldas previa o acionamento dos veículos por motor elétrico. Depois de testado, esse sistema não funcionou.

Os idealizadores passaram a usar então o motor a diesel. Nunca se soube porque, o desgaste exagerado dos pneus inviabilizou o sistema.

Como última alternativa, foi tentado fixar sobre as vigas dois trilhos de aço, tal qual uma ferrovia comum, mas com uma bitola muito reduzida. Justamente em função dessa bitola reduzida, a composição ficou instável e descarrilou na primeira curva, apesar da baixíssima velocidade, tornando-se necessária a intervenção do corpo de bombeiros para o desembarque dos passageiros.

2. Depois de quase quarenta anos de insucessos, os proprietários da obra, sempre respeitados por serem profissionais competentes, concluíram pela sua total inviabilidade técnica e econômica, e optaram por rescindir o contrato, transferindo a partir daí toda a responsabilidade para a prefeitura.

3. Se quem idealizou todo o projeto, e investiu muito dinheiro naquela obra não conseguiu, apesar das inúmeras tentativas, viabilizá-la, dificilmente o poder público vai, num passe de mágica, superar todos os obstáculos e botar o sistema para funcionar. Que tipo de nova solução seria tentada?

4. Da última vez que a prefeitura fez uma dragagem bem feita do rio que corre ao longo das avenidas João Pinheiro e Mansur Frayha, o consequente aumento da velocidade das águas acabou por provocar a queda de parte da estrutura do monotrilho. A partir daí, nunca mais foi feita uma dragagem do rio, mas apenas pequenas limpezas, temendo que novo desabamento acontecesse.

Todo o volume de águas pluviais que incide sobre as zonas leste e centro da cidade concorre para o ribeirão, até desaguar na cascata das antas. Com o crescimento da cidade, esse volume vai sempre aumentar, aumentando por consequência o risco de enchentes ao longo das avenidas João Pinheiro e Mansur Frayha, penalizando severamente comerciantes e moradores do entorno.

A presença da estrutura do monotrilho ao longo do rio, como já foi constatado, oferece risco de colapso em caso de enchentes.

5. Para amenizar o impacto visual da estrutura do monotrilho, as administrações passadas plantaram árvores de grande porte muito próximas ao meio-fio, o que acabou por provocar a queda de algumas daquelas árvores, por falta de sustentação das suas raízes.

6. Visando evitar maiores problemas, a atual administração optou por suprimir aquelas árvores de maior porte, com o objetivo de implantar um novo paisagismo com espécimes mais adequadas ao local.

7. Antes que se iniciem os trabalhos desse novo paisagismo, seria muito conveniente que se providenciasse o desmonte total da estrutura do monotrilho, aproveitando que esse trabalho poderá ser facilitado pelo livre acesso de máquinas de grande porte, já que não existem mais as árvores e nem os meios-fios que poderiam dificultar esse trabalho.

8. A atual administração municipal tem agora uma grande oportunidade de resolver definitivamente o problema e destinar os poucos recursos de que dispõe para promover uma dragagem completa do leito do rio, resolvendo o problema das enchentes naquela região.

9. A médio prazo, as margens do rio deverão ser protegidas e estabilizadas com muros de pedras e concreto, exatamente como fizeram nossos administradores no início do século passado ao longo dos ribeirões em todo o centro da cidade.

10. Mesmo que fosse possível colocar o monotrilho em funcionamento, as atuais exigências quanto à segurança no embarque, transporte e desembarque dos passageiros e o acesso obrigatório aos deficientes físicos tornariam a sua operação impossível ou de custo incompatível com a nossa realidade econômica.

11. O ganho estético que teria a cidade com a sua demolição é indiscutível. A realidade do século 21 é muito diferente da que imaginavam os seus idealizadores 40 anos atrás, e a cidade não pode maisser prejudicada com a permanência dessaestrutura, que perdeu a sua finalidade.

*Alvaro Ely Monteiro Vilela é engenheiro civil, graduado pela Escola de Engenharia da UFRJ, com especialização em grandes estruturas.

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