Mudança climática: Julho de 2023 foi o mês mais quente da história

Fortaleza, CE – O planeta está em ebulição. A temperatura global está aumentando e influenciando os fenômenos climáticos em todos os continentes. De acordo com a Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa), julho de 2023 foi o mês mais quente desde o período industrial e alertaram que 2024 deve ser pior. Ainda que julho seja naturalmente um mês quente, a temperatura da Terra em julho de 2023 foi 0,72 °C acima da média global registrada entre os anos de 1991 e 2020. O dia 6 de julho de 2023 foi o mais quente já catalogado, com uma temperatura média global de 17,08 °C. Em condições normais, o planeta teria média global de 15 °C.

Um dos nomes para recordes do tipo é anomalia climática. Ela ocorre quando algum elemento de uma série climatológica (por exemplo, a temperatura média global) foge drasticamente do padrão, mesmo quando consideradas as variações normais. Nos oceanos, também houve recorde de altas de temperaturas: a cerca de 10 metros abaixo da superfície, a água ficou, em média, 0,51 °C mais quente do que o recorde anterior.

Os dados são do Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas Copernicus, ligado à União Europeia (UE), obtidos tanto pelo monitoramento climático a partir de 1940, quanto por um índice histórico de mudanças climáticas construídas por meio de anéis de árvores e bolhas de geleiras. “Talvez só tenha algum julho comparável com julho de 2023 se a gente retroceder 125 mil anos”, comenta o climatologista Alexandre Costa, professor na Universidade Estadual do Ceará (Uece).

As consequências são palpáveis: maior número de queimadas, chuvas torrenciais, maior frequência de ciclones, secas e inundações mais intensas, o aumento do nível do mar. A lista é longa. Tudo é resultado inequívoco da atividade humana na Terra. Todos os países são afetados, mas o extremo climático de julho foi principalmente observado no sul da Europa, no sudoeste dos Estados Unidos, parte do Oriente Médio, no norte da África e em setores da Ásia. São inundações, deslizamentos de terra, ondas de calor e incêndios florestais. No começo de agosto, ao menos seis mortes foram confirmadas em meio ao resgate de pessoas atingidas pelas enchentes e pelos deslizamentos de terra na Eslovênia, na Áustria e na Croácia. Na Eslovênia, as autoridades locais indicam que as inundações afetaram dois terços dos 2,1 milhões de habitantes. Já Portugal e Espanha sofreram com o calor e com os incêndios florestais. Em Castelo Branco, próximo à fronteira com a Espanha, cerca de 7 mil hectares foram destruídos pelo fogo. Na Espanha, o fogo destruiu quase 600 hectares na região da Catalunha, perto da fronteira com a França.

A queima de combustíveis fósseis é a principal causa do aquecimento global, pela liberação massiva de dióxido de carbono (CO2), acompanhada de queimadas, desmatamento e decomposição de lixo. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já deixou claro que a única maneira de evitar a piora da crise climática é cortando por completo o uso de combustíveis fósseis. Mesmo assim, o investimento em combustíveis fósseis continua intenso. O IPCC indica que, entre 2019 e 2020, o investimento em combustíveis fósseis foi maior do que o da adaptação e mitigação do clima. Aliás, os 10% mais ricos do mundo são responsáveis por 36% a 45% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE); dois terços deles vivem em países desenvolvidos. Apesar disso, os mais vulneráveis aos efeitos da crise climática são justamente os países subdesenvolvidos, que menos contribuíram para a crise climática e têm mais dificuldade para adaptar-se aos extremos climáticos.

Estados Unidos, Reino Unido e China são os principais responsáveis pela emissão de GEE durante a série histórica. Considerando apenas a emissão cumulativa em 2021, no entanto, os três países com maior emissão são: EUA, China e Rússia. O Brasil aparece em quarto lugar, vale lembrar que os anos de 2020, 2021 e 2022 bateram recordes de queimadas na Amazônia e no Pantanal, bioma que perdeu 30% por incêndios em 2020. O desmatamento também avançou nesses anos. É justamente a mudança no uso da terra (como o desmatamento) que impulsiona as emissões brasileiras, seguida do agronegócio.

Conteúdo publicado por Catalina Leite  – Jornal O Povo – Fortaleza – Ceará

Arte: Jéssica Bezerra

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