Retrospectiva do fotógrafo Walter Firmo chega ao IMS Poços

Poços de Caldas. MG – A partir deste 29 de junho (sábado), o IMS Poços apresenta a exposição Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito. A retrospectiva, que já foi exibida em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Salvador, traça um panorama da obra do fotógrafo carioca, marcada, sobretudo, pelas imagens que retratam e exaltam a população e a cultura negra do país.  A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. A retrospectiva também conta com assistência de curadoria da conservadora-restauradora Alessandra Coutinho Campos; e pesquisa biográfica e documental de Andrea Wanderley, integrantes da Coordenadoria de Fotografia do IMS. 

No dia de abertura (29/6), às 16h, haverá um debate no cinema do IMS Poços, com Walter Firmo e os curadores da exposição. Após a conversa, será realizada uma visita mediada com o artista pela mostra. Em seguida, às 18h30, haverá uma apresentação musical do projeto Black Safari.

Com entrada gratuita, a seleção reúne mais de 260 fotografias, produzidas desde a década de 1950, no início da carreira do artista, até 2021. A mostra traz imagens de diversas regiões do Brasil, com registros de ritos, festas populares e cenas cotidianas. O conjunto destaca a poética do artista, associada à experimentação e à criação de imagens, muitas vezes encenadas e dirigidas. Grande parte das obras exibidas provém do acervo do fotógrafo, que se encontra sob a guarda do IMS desde 2018, em regime de comodato.

Nascido em 1937 no bairro do Irajá, no Rio de Janeiro, e criado no subúrbio carioca, filho único de paraenses – seu pai, de família negra e ribeirinha do baixo Amazonas; sua mãe, de família branca portuguesa, nascida em Belém –, Firmo começou a fotografar cedo, após ganhar uma câmera de seu pai. Em 1955, então com 18 anos, passou a integrar a equipe do jornal Ultima Hora, após estudar na Associação Brasileira de Arte Fotográfica (Abaf), no Rio. Mais tarde, trabalharia no Jornal do Brasil e, em seguida, na revista Realidade, como um dos primeiros fotógrafos da revista. Em 1967, já trabalhando na revista Manchete, foi correspondente, durante cerca de seis meses, da Editora Bloch em Nova York. 

Nesse período no exterior, o artista teve contato com o movimento Black Is Beautiful e as discussões em torno dos direitos civis, que marcariam todo seu trabalho posterior. De volta ao Brasil, trabalhou em outros veículos da imprensa e começou a fotografar para a indústria fonográfica. Iniciou ainda sua pesquisa sobre as festas populares, sagradas e profanas, em todo o território brasileiro, em direção a uma produção cada vez mais autoral.

A mostra apresenta sua obra fotográfica a partir de seis núcleos temáticos. No primeiro, o público encontra fotografias em cores de grande formato, produzidas pelo fotógrafo ao longo de toda sua carreira. Há fotos feitas em Salvador (BA), como o registro de uma jovem noiva na favela de Alagados, de 2002; em Cachoeira (BA), como o retrato da Mãe Filhinha (1904-2014), que fez parte da Irmandade da Boa Morte durante 70 anos; e em Conceição da Barra (ES), onde o fotógrafo retratou o quilombola Gaudêncio da Conceição (1928-2020), integrante da Comunidade do Angelim e do grupo Ticumbi, dança de raízes africanas; entre outras.

Nas fotografias, prevalece uma aura de afetividade e valorização da negritude, como afirma o próprio artista: “Acabei colocando os negros numa atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou.” Em texto publicado no catálogo, Janaina Damaceno Gomes também reflete sobre o tema: “Se, numa sociedade racista, a norma é o ódio e o auto-ódio, como nos mostram os trabalhos de bell hooks, Frantz Fanon e Virgínia Bicudo, amar a negritude compreende um percurso necessário de cura. Não é à toa que Firmo define a cor em seu trabalho em termos de amor pelo povo e pela cultura negra, mas é necessário entender que o direito a olhar não se restringe à ideia de autorrepresentação.”

Foto: Divulgação/IMS