Indiferentes
O aumento recorde das abstenções nas últimas eleições reflete um fenômeno preocupante e sintomático: o crescente desinteresse do eleitor pelo processo eleitoral. Em São Paulo, a taxa de abstenção chegou a 31,54% no segundo turno, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pretende investigar os fatores que contribuem para essa crescente alienação cívica. No entanto, o fenômeno do desinteresse eleitoral não é recente; ele vem se acentuando ao longo dos anos e exige um exame mais profundo do sistema político e da maneira como os eleitores se sentem representados — ou, no caso, não representados.
Esse desinteresse é um sinal de alerta para os políticos e uma indicação de que algo está profundamente desconectado entre os interesses e necessidades da população e as práticas políticas vigentes. Os eleitores, desiludidos com promessas não cumpridas, escândalos recorrentes e a falta de renovação nas práticas governamentais, acabam se afastando das urnas, transformando as eleições, cada vez mais, em um evento simbólico ao invés de uma efetiva manifestação democrática.
Uma das soluções que poderia ser considerada é uma reforma política que incentive a participação, permitindo ao eleitor a escolha consciente de votar ou não. Isso promoveria o respeito à vontade do cidadão e refletiria o grau de comprometimento do eleitor com as práticas políticas. Ao mesmo tempo, estimularia os candidatos a pensarem além de suas plataformas e ouvirem as preocupações e aspirações reais da população, buscando políticas mais inclusivas e menos elitizadas.
A diminuição da abstenção exige não só o engajamento dos eleitores, mas também uma transformação significativa por parte dos políticos, que precisam reconquistar a confiança dos cidadãos. O TSE, ao buscar entender as causas desse desinteresse, pode abrir caminho para reformas fundamentais que, de fato, aproximem o eleitor do processo eleitoral e revigorem o compromisso da sociedade com o futuro político do país.