Thermas Antônio Carlos: para quê e para quem?

Data da Publicação:

22/01/2025

Tiago Mafra

A relação de Poços de Caldas com o termalismo médico é profunda e remonta aos primórdios da cidade, quando suas águas termais foram descobertas e passaram a ser valorizadas por suas propriedades curativas. Ao longo dos anos, a cidade se firmou como um dos principais destinos de turismo termal do Brasil, atraindo tanto a elite brasileira do século XIX, quanto médicos e pesquisadores que exploraram o potencial terapêutico das fontes hidrominerais. Com águas ricas em minerais como enxofre, cálcio e magnésio, a cidade tornou-se um símbolo da conexão entre saúde, natureza e ciência.
Um marco desse desenvolvimento foi a construção das casas de banho e, especialmente, das Thermas Antônio Carlos, projetadas pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves. Inaugurada em 1931, a Thermas contava com banheiras individuais, salas de massagem e tecnologias avançadas para tratamentos terapêuticos, consolidando Poços de Caldas como um centro de saúde e bem-estar. Além de atrair visitantes em busca de cura e relaxamento, essas obras impulsionaram o crescimento urbano, consolidando a cidade como uma das mais importantes estâncias hidrominerais do Brasil.
Atualmente, as Thermas Antônio Carlos estão sob a gestão da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemge), que assumiu o controle do edifício em 2018. Antes disso, o local era administrado pela Prefeitura Municipal desde 1990. A Codemge está conduzindo audiências públicas e elaborando um edital para concessão dos serviços à iniciativa privada por 30 anos.
Embora o ideal seja manter a gestão pública do espaço, garantindo seu acesso à população, sua integração com o Sistema Único de Saúde (SUS) e sua vocação médico-termal, estamos acompanhando de perto as discussões. Participamos da audiência pública e apresentamos sugestões para aprimorar o edital, com o objetivo de proteger o patrimônio histórico, garantir a continuidade e ampliação dos serviços públicos e assegurar o atendimento à população por meio do SUS.
Dentre as sugestões apresentadas, destacamos os seguintes pontos:
1. Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural: Propomos a inclusão de diretrizes claras no edital para a manutenção e restauração do patrimônio histórico, com relatórios supervisionados por órgãos responsáveis.
2. Compromisso com o Turismo Médico: Sugerimos a inclusão de metas de atendimento tanto para moradores locais quanto para turistas, além da obrigatoriedade de parcerias com a Secretaria Municipal de Saúde para serviços via SUS.
3. Requisitos de Qualificação Técnica: Defendemos a exigência de experiência comprovada na gestão de complexos termais ou espaços de saúde, para evitar que o foco seja apenas comercial e turístico.
4.Acessibilidade e Benefícios para a Comunidade: Solicitamos um plano que garanta serviços subsidiados ou gratuitos para os moradores de Poços, além de parcerias com o SUS.
5.Fiscalização e Penalidades: Propusemos penalidades mais severas para falhas na conservação do patrimônio e no cumprimento de metas sociais.
6.Duração do Contrato: Recomendamos revisões periódicas do contrato, a cada cinco ou dez anos, para ajustes conforme o desempenho da empresa concessionária.
7.Planejamento Financeiro: Sugerimos que parte dos lucros obtidos com a operação seja reinvestida em melhorias estruturais e em programas de turismo médico e cultural.
8.Participação da Comunidade: Defendemos a criação de um comitê com representantes da comunidade e especialistas para monitorar a execução do contrato.
Acreditamos que uma gestão pública das Thermas Antônio Carlos seria a forma ideal de preservar sua vocação original: o uso das águas termais para tratamentos médicos e terapêuticos. Esse modelo garantiria o acesso à saúde e bem-estar da população, mantendo o patrimônio público voltado para o interesse coletivo. Além disso, seria possível investir em pesquisa científica, parcerias com instituições de saúde e oferecer tratamentos acessíveis, tudo isso preservando o legado histórico e funcional do espaço.
Enquanto não conseguimos concretizar essa visão, seguimos trabalhando para que as propostas de concessão respeitem os interesses públicos e o bem-estar da população. Nosso compromisso é garantir que as Thermas Antônio Carlos permaneçam como um símbolo de cuidado com a saúde, a cultura e o futuro de Poços de Caldas.

*Tiago Mafra
é professor de geografia da rede pública municipal de ensino desde 2009, Secretário Geral do Partido dos Trabalhadores e
Vereador (2025-2028).

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