Hugo PONTES*
Há determinados dísticos que nos dias de hoje não estão em moda. Coisas apenas para filmes românticos das décadas de 40 e 50 do século passado.
Por exemplo, podemos citar aquele: “Ir a Roma e depois morrer”.
Lá podemos visitar o Fórum de Augusto e observar que é um quarteirão inteiro no qual as ruínas estão no mesmo lugar. E como estão, atraem dinheiro! Isso, porque atraem os turistas que querem ver e saber que as ruínas permanecem no mais perfeito estado de conservação.
Mas isso é em Roma, na Europa milenar e culta.
Se levarmos em conta o país – modelo dos sonhos coloniais de nossos governantes – pode-se dizer que nos Estados Unidos da América do Norte há uma grande preocupação com o patrimônio, porque atrai turistas para ver, ouvir e sentir até como era uma cidade do “velho oeste” dos anos de 1700.
Passemos para o Brasil, país amado, idolatrado salve, salve. Salvemo-nos todos.
Patrimônio aqui parece ser o quanto o cidadão tem no bolso, na bolsa no banco ou a quantidade de imóveis em carteira.
Não fora pela ida, pelos idos de 1890, do eminente médico Pedro Sanches para a Europa, a fim de estudar e observar o uso das águas termais na França e Alemanha, para ter ciência do que eram as águas quentes das Caldas, provavelmente essas nossas águas seriam aterradas, por conta e risco da ignorância de muitos, como já acontece quando sangram a terra para fazer fundações para construção de prédios, ou vender terreno perto das Termas.
Não fora Francisco Escobar, o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que estruturaram a cidade; os médicos Mário Mourão, Benedictus Mourão, Orozimbo Corrêa Netto, Aristides de Mello e Souza, Marcus Untura Filho e Jussara Marrichi os quais pesquisaram e estudaram as águas, a nossa freguesia não seria a Poços de Caldas de todos nós. Seria os poços da cidade de Caldas.
Problemas à parte é preciso que todos os viajados, os pouco viajados, os muito viajados e os doutores em viagens saibam que Poços de Caldas só existe por causa de suas águas termais.
Saudamos as águas termais, pois delas brotou essa Hidrolândia (termo usado pelo fotógrafo Sá Vasconcelos, de 1900), ou a Hidrópolis (de Léo Ferrer, de 1930).
Defender a especulação imobiliária, com a verticalização crescente de nosso espaço ambiental e perfurar o nosso brejo das águas – até esvair a última gota de seu sacro “sangue”, é ignorar a qualidade de vida que todos nós poderemos ter e deixá-la para sempre aos nossos filhos e netos
– e nisso incluo o Eduardo, o Caio, a Isabele, a Aninha, a Vitória, a Nicole, a Laura, a Maria, o João, o José, o Mateus e aqueles que ainda vão nascer.
Sim, construir prédios é progresso para a carteira de imóveis dos especuladores de plantão. E é direito deles, pois há brechas nas leis que aí estão.
Mas é direito do povo, pelos de seus representantes legais (os vereadores) – através voto livre – legisLAR defendendo o patrimônio e o espaço urbano; defendendo o uso e a ocupação do solo.
Agora, neste 2025, vemos da CODEMIG querendo PRIVATIZAR esse patrimônio do povo de Poços de Caldas. Patrimônio que é a raiz da existência da cidade. Se acontecer isso a empresa que adquirir deverá pagar para a prefeitura pelo uso e venda das águas termais (pois é um produto natural do município.
É da inteligência que vem o bom senso e o bem-estar presente e futuro do ser humano. Por que a Prefeitura não assumir definitivamente esse patrimônio que é nosso?
*Professor, poeta e jornalista