Yanomamis: entre a escuridão do hoje e o horizonte do amanhã

Ana Paula Ferreira
Educadora e membro do Coletivo Educação

As fotos de desnutrição dos yanomamis chocaram o mundo e é fato que esse genocídio sombrio não se iniciou agora. Povos indígenas foram exterminados desde a chegada dos europeus, que trouxeram gripe, sarampo, tuberculose, sífilis, pólvora, ou, nas palavras de Neruda, “a espada, a cruz e a fome”.
Aimorés, Goitacazes, Carijós, Cariris, Guaranis, Tamoios e tantos outros povos foram caracterizados como selvagens. A perversidade da nomenclatura agia como lâmina: ao serem selvagens, não mereciam viver na sua plenitude. Portanto, se a morte não fosse simbólica, de todas suas memórias e identidades, amansados pelas cruzes cristãs ou reduzidos a escravos pelas espadas dos bandeirantes, a morte seria real, sanguinária, dizimando milhões de indígenas, enterrando culturas, línguas, formas de ver e viver o mundo.
Na perspectiva europeia, ameríndios deveriam trazer lucros, gerar riquezas, abastecer o capitalismo internacional que já dava seus ensaios de mostrar os desequilíbrios econômicos entre os colonizadores e colonizados. Se os indígenas não participassem dessa lógica eram considerados preguiçosos, atrasados e daí a pergunta que muitos se fazem até hoje: por que preservar suas culturas se são os inimigos do desenvolvimento econômico?
Primeiro, é importante frisar que os indígenas partem de outra ótica planetária. Num planeta que já não sabe o que fazer com seu lixo, os indígenas produzem suas casas com materiais biodegradáveis; numa economia neoliberal que desmata hectares para benefício imediatista da agropecuária e de madeireiras, indígenas preservam florestas mediante a agricultura itinerante; numa sociedade que transforma a todos como meros consumidores, indígenas são produtores diretos de suas próprias habitações, instrumentos musicais, alimentação.
Aliás, cabe lembrar que através da manutenção de suas reservas é possível ter a regularidade de rios voadores que contribuirão com a umidade das plantações do Centro-oeste. Seca é subdesenvolvimento, é fome, é falta de geração de renda. Assim sendo, povos indígenas não remam contra um desenvolvimento que seja ecologicamente sustentável.
Contudo, apesar de ajudarem na nossa produção de comida, estão morrendo de fome, agravada pelo governo Bolsonaro quando atribuiu que a demarcação das terras indígenas seria feita pelo Ministério da Agricultura ao invés da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Isso resultou em deixar que ruralistas se encarregassem de “cuidar” das terras dos povos originários e a consequência foi a entrada maciça de tratores, carretas, gado, arrendamentos ilegais, aumento exponencial do desmatamento e da morte da população indígena nos últimos anos.
Inúmeras denúncias foram realizadas, inclusive sobre os impactos do garimpo ilegal. Geração de renda! Alguns dirão… Porém, renda e ganhos para quem? Novamente o capitalismo se impõe e além da destruição de yanomamis, garimpeiros se mantem pobres sem a previsão de qualquer direito trabalhista. Ainda na onda do desastre econômico, ao ser ilegal, não há geração de imposto, fragilizando a eficiência do Estado no cumprimento de suas ações. Enquanto isso, empresários nacionais exportam o ouro em barra e joalheiros internacionais lucram com a devastação ambiental, social e étnica de países que se curvam a seus interesses.
O garimpo traz junto de si o mercúrio que contamina águas, terra, plantas e consequentemente interfere na produção alimentar. O quadro piorou com os surtos de malária e na falta de medicamentos, cuja empresa responsável entregou menos de 30% do previsto. Mulheres e crianças yanomamis são alvos de exploração sexual em troca de comida, dezenas morreram desnutridos e enquanto isso a indústria da mentira quer associar essa tragédia como se pertencesse aos grupos indígenas que vivem na Venezuela.
Quais são as perspectivas futuras? O que esperar? Ou melhor, como participar desse movimento de defesa de suas vidas?
Em visita recente ao Museu do Amanhã (RJ) me impressionei com as imagens de Sebastião Salgado em homenagem aos nossos povos originários da Amazônia. A exposição não deixou de se articular com o segundo andar e a iluminação do ambiente. Começava por salas mais escuras, que serviam como um convite à reflexão do que deveremos manter para que haja um “amanhã” e por isso não faltaram apelo à consciência ambiental, à preservação cultural, passando por locais nos quais os visitantes, se enxergassem nesse papel de estar no centro da sociedade, no meio e, logo, responsáveis também por esse modelo violento de economia que incide em tantos outros problemas.
Mas no final do túnel havia realmente luz. Luz do próprio sol que entrava pela estrutura do museu e nos possibilitava ver com claridade duas imagens. A primeira, uma churinga, uma espécie de urna de histórias, onde os anciãos australianos guardavam toda uma cultura a ser contada para as novas gerações. A segunda, o horizonte do oceano, horizonte que traz a beleza da metáfora em se confundir com o amanhã, que se abre na nossa frente feito um imenso tapete de água, no qual se perde a ideia do que virá.
Não sabemos se conseguiremos preservar a cultura de nossos povos. Não sabemos se haverá meios para reverter tantos danos ambientais que já foram cometidos. Mas estamos no meio disso e fugir é dar o aval aos colonizadores da globalização, repetir mentiras é esquecer o que está na churinga de nossas memórias enquanto povo, esquecer das atrocidades ou ser conivente a elas é não se responsabilizar por um futuro do cuidado, da diversidade, de uma vida que pode ser socialmente sustentável e que os povos indígenas tanto revelam sobre isso.

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