Pelego(a) uma palavra em estudo

Hugo PONTES
Professor, poeta e jornalista

O léxico da Língua Portuguesa revela que a palavra significa “pele de carneiro enlanzada”, servindo para forrar os arreios e tem a serventia de amortecer o impacto do trote do cavalo em relação ao corpo do cavaleiro.
Com o tempo a palavra ganhou outra conotação e pelego tornou-se sinônimo de servil e submisso às ordens do chefe e do patrão.
Tal comportamento é comum a todos os grupos humanos. A necessidade de subir na profissão, no cargo público, de alcançar uma promoção em qualquer hierarquia, produziu o denominado peleguismo.
O peleguismo, por sua natureza, é erva daninha em qualquer canteiro das sociedades e governos absolutistas. Já em 1930 a palavra foi adotada pela própria conjuntura brasileira, ocasião em que o caudilhismo trazido pelos gaúchos para a capital federal, Rio de Janeiro, despontava. Depois, com os novos tempos, a palavra e a prática não desapareceram.
Ela aninhou-se, como que nascida em berço esplêndido, no meio do sindicalismo nacional e hoje fez com que os nossos trabalhadores ficassem órfãos da representação de classe. Os líderes dos trabalhadores foram cooptados com altos cargos nas administrações federais, estaduais e municipais.
É importante que se diga que a atitude do pelego é clássica. Suas mãos estão sempre espalmadas para os cumprimentos, para puxar um aplauso, para os rapapés em geral. Num piscar de olhos consegue, além do riso, imitar a voz e o caminhar do chefe, pentear os cabelos e ficar indignado com a dor-de-dente do seu dono.
Sem dúvida o pelego de hoje é bem mais sofisticado do que aqueles de anos passados. Serve para tudo. Já não segura o estribo, mas abre e fecha a porta do carro; reserva a mesa do restaurante e aguarda tudo acabar para comer os restos do chefe.
Sua dedicação exclusiva é irracional. Concorda, por servilismo, com o chefe e discorda do resto do mundo, pois é movido pela ignorância e ganância.
A simples necessidade de sobrevivência o torna explorador da vaidade humana e está entre os áulicos, os puxa-sacos e o palhaço os quais buscam, em seus salamaleques, a sobrevivência. E, enquanto isso, os sindicalizados ficam no prejuízo a cada negociação “negociada”.

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