Mulheres no trânsito: desafios e avanços
Poços de Caldas, MG – Em entrevista ao Mantiqueira, Jucimara Fernandes, diretora do Siprocfc-MG e proprietária da Auto Escola Zequinha, abordou as complexidades enfrentadas pelas mulheres que optam por seguir carreiras profissionais ligadas ao volante. Destacando a dificuldade e os preconceitos enfrentados, Jucimara trouxe à tona uma realidade ainda persistente.
Ao ser questionada sobre a aceitação da mulher como profissional da direção, Jucimara compartilhou suas observações como proprietária de uma autoescola. Embora o número de mulheres buscando a habilitação tenha aumentado, como profissionais no setor de trânsito, as mulheres ainda representam uma minoria significativa. A diretora mencionou sua participação em um evento em Brasília, onde foi a única mulher representando os centros de formação, evidenciando a disparidade de gênero no campo. “Eu tive a oportunidade esse ano de estar em Brasília na semana nacional de trânsito e eu era a única mulher que estava representando de todos os estados, era a única mulher que estava representando os centros de formação. O restante era um universo ainda bem masculino e ainda pude estar lá porque o presidente liberou a presença dele para que uma mulher pudesse estar representando, mas ainda a gente ainda tem aí 11 grande dificuldade de introduzir as mulheres nesse nesse trabalho do trânsito”, destacou
A entrevistada ressaltou que, estatisticamente, não há evidências que comprovem que as mulheres dirigem pior, contradizendo estereótipos persistentes. A cultura popular, expressa no ditado “mulher no volante, perigo constante”, ainda se faz presente, mesmo diante de estatísticas que apontam a prudência e responsabilidade das mulheres ao volante.
Quando questionada sobre como mudar essa perspectiva, Jucimara destacou a importância do debate e do fomento de oportunidades. Algumas empresas no Brasil estão adotando políticas que empregam exclusivamente motoristas femininas, inclusive para transporte de cargas perigosas. Essa mudança, embora gradual, mostra que é possível romper com estereótipos.
Sobre a presença feminina em postos de trabalho no setor, Jucimara reconheceu que ainda é uma minoria. A diretora mencionou a dificuldade de encontrar profissionais mulheres e revelou que algumas delas foram convidadas e formadas para atuar nessa área. A questão cultural, onde os meninos são incentivados a lidar com carros desde cedo, enquanto as meninas são associadas a brincadeiras mais tradicionais, contribui para essa disparidade.
A entrevista trouxe à tona a importância de mudar a mentalidade cultural e proporcionar confiança às mulheres. Jucimara Fernandes destacou que, além do medo, a autoestima e a percepção de capacidade também são fatores a serem considerados. A promoção de uma cultura que reconhece a habilidade das mulheres no trânsito é crucial para superar os desafios enfrentados por profissionais femininas nesse setor.
“Acho que esse tema está sendo debatido, e é um grande fomento para que as pessoas vejam as oportunidades. Por exemplo, hoje no Brasil, temos empresas que estão trabalhando exclusivamente com mulheres, inclusive no transporte de cargas perigosas. São empresas que adotaram a prática de ter apenas motoristas femininas devido ao cuidado com o caminhão, com a carga e à responsabilidade de cumprir as normas da empresa. Essas empresas aderiram a essa iniciativa e não retrocedem mais.
Quanto à situação nos postos de gasolina e locais de trabalho, percebemos que ainda é uma realidade em que as mulheres são minoria. É difícil encontrar profissionais do sexo feminino nesse ramo. Algumas das mulheres que trabalharam comigo foram convidadas para essa área porque eu sabia que dirigiam e tinham didática para o ensino. Fizemos esses convites e capacitamos essas mulheres para que pudessem ingressar nesse mercado. Não muitas delas tomaram a iniciativa por conta própria, mas foram convidadas.”
A entrevista finalizou com a experiência pessoal de Jucimara como instrutora, onde enfrentou alguns casos de recusa de homens em realizar aulas com uma instrutora mulher. Esses desafios reforçam a necessidade contínua de mudanças culturais e de percepção de gênero no setor automotivo e de trânsito.
“Hoje eu fico mais na gestão, mas já ministrei aulas tanto teóricas quanto práticas. Como instrutora, experimentei diversas situações em lugares distintos. Infelizmente, não são raros os casos em que homens recusam fazer aula com uma instrutora mulher. Inclusive, no meu Centro de Formação de Condutores (CFC), no ano passado, realizamos algumas análises a respeito disso. Houve diversos homens que se recusaram a fazer aula comigo, alegando que minha estrutura, por ser mulher, não seria adequada.”
Paulo Vitor de Campos
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