A LIBERDADE DE TODOS NÓS
Hugo PONTES
Professor, poeta e jornalista
Quem precisa de liberdade? E onde está a liberdade?
De 1964 a 1984 a minha geração passou por um período em que a truculência era rotina no trato nas mínimas ações. Qualquer atividade, por insignificante que fosse, era considerada “delito” por parte daqueles que promoveram e mantiveram a ditadura militar (e civil) em nosso país.
Nada dignificava mais para um defensor do regime, do que a delação. Era assim que comportavam não só os militares como inúmeros civis que, além de se fingirem patriotas, apontavam o dedo para os seus desafetos delatando-os como comunistas. Eram comumente denominados “Dedos-duros”.
Que o digam aqueles que sofreram com as delações.
Vivemos, sem saudades, uma noite de 20 anos. E, nesse tempo, o regime conseguiu “matar” futuros líderes que poderiam vir a integrar a política municipal, estadual e nacional.
O que se fez para que isso acontecesse foi o fato de proibirem a existência dos Grêmios Estudantis, da existência de partidos políticos nascidos pela vontade do povo, e outras atividades que caracterizassem o exercício da democracia e formação de lideranças.
As repercussões chegam até os dias atuais e jamais recuperaremos o tempo perdido.
Talvez esta seja uma afirmação imprudente. A atualidade não se assemelha ao passado recente.
O que vemos é uma censura clássica em que, uma pessoa não sendo convencida por qualquer agremiação seja política (os partidos), associações de toda ordem e ou que não estejam concordes com o “statu quo” – torna-se um cidadão, ou cidadã à margem de qualquer participação em uma comunidade. Estudos sociológicos apontam que, em geral, quem escolhe a vida política quer mesmo é enriquecer à custa do dinheiro público. Exemplos não faltam. A cultura do entreguismo está às nossas portas, seja no município – nosso berço original – seja nas esferas corruptas do governo federal.
Vivemos num país e numa época de um novo século que deveria ser promissor para as diversas gerações que poderiam se tornar lideranças em todos os setores, mas são impedidas pela mesquinhez daqueles que, tanto na teoria como na prática, se intitulam lideranças nos setores onde atuam, seja na política, seja no comércio, indústria ou serviços.
Essa gente, com toda pompa e mau-caratismo, consegue impedir que uma cidade avance, que outros tenham iniciativas e consigam fazer com que haja um desenvolvimento efetivo que beneficie a todos, sem violar o direito de cada um morar e conviver.
Em nosso país, em que pese os políticos apregoarem ser democráticos, o povo e as instituições vivem sob uma velada censura. Opinião é palavrão.
É do poeta Ferreira Gullar uma boa frase que ilustra esse comportamento:
“Já pensou que não existe mais opinião? Tudo é preconceito. Qualquer opinião que contraria o que está estabelecido é preconceito”.
E perguntamos: onde está a liberdade, “Grande Irmão”? George Orwell pode responder em seu livro 1984.
Talvez nem tenhamos liberdade. Somos, no dia a dia, prisioneiros do medo e reféns da impunidade herança daqueles tempos passados cujos dedos ainda estão apontados para quem pensa e raciocina criticamente.
Vemos com frequência pessoas se despedirem – não com um bom dia, ou boa noite – mas com a exclamação: “muita paz para você”.
Uma paz que, não existindo mais, todos querem ser apresentados a ela.
Certamente as cidades, os Estados e o Brasil precisam de paz e, sobretudo, que lideranças e dirigentes repensem as suas práticas e acreditem que para ter é preciso também dividir; e para ser é preciso humanizar.
Não será com o entreguismo, com a venda do patrimônio do povo que “consertaremos” o que já está sucateado.
A esperança é de que no futuro surjam políticos honestos, não-omissos, não-deslumbrados com o poder e que não tenham como meta pessoal o enriquecimento através do dinheiro público.
E, por fim, 1964 Nunca Mais.