Apa Pedra Branca realiza oficina sobre as culturas indígenas e quilombolas em Caldas
Caldas, MG – A Aliança em Prol da APA da Pedra Branca, organização da sociedade civil atuante no território da Serra da Pedra Branca, no Sul de Minas Gerais, realizou, no último sábado, dia 29 de junho, uma oficina sobre valorização das culturas indígenas e quilombolas, na cidade de Caldas.
A atividade integra as ações do projeto “Preservação das tradições indígenas na Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré através da estruturação do Centro Cultural Kiriri e fortalecimento da Comunidade Quilombola de Barreirinhos em Caldas/MG”, realizado pela entidade por meio de um convênio celebrado com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
O projeto envolve a realização de oficinas e a aquisição de equipamentos audiovisuais, de som e de cozinha, de ferramentas para a produção de artesanato, e de instrumentos musicais para a estruturação do Centro Cultural Kiriri, e de equipamentos para o fortalecimento da produção artesanal de sabão pela comunidade quilombola de Barreirinhos.
Participaram da oficina 20 integrantes da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré e da comunidade quilombola de Barreirinhos, as integrantes da equipe do projeto, Tatiana Plens, Noemi Barquero e Uschi Silva, e as representantes do núcleo de cultura da Aliança, Alik Wunder e Talita do Lago.
As pessoas participantes dialogaram sobre saberes, fazeres e experiências de preservação da cultura e das tradições das comunidades. Ao longo desse diálogo, os membros da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré e da comunidade quilombola de Barreirinhos partilharam histórias, sonhos e os desafios e processos de silenciamento e invisibilização que enfrentam.
“A gente quer unir forças. Nós, comunidades tradicionais, comunidades indígenas, quilombolas, povos de terreiro, temos que nos unir para mostrar que nós somos cultura, nós somos povo popular e estamos aqui em Caldas”, afirmou a diretora de escola e liderança indígena da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré, Carliusa Ramos.
A importância de contar histórias
Na oficina, os membros da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré ressaltaram a importância de contar as histórias dos povos tradicionais que foram e ainda são constantemente silenciadas e invisibilizadas, incluindo na cidade de Caldas. “É uma luta diária fazer essas histórias aparecerem”, comentou o pajé da aldeia, Agenilton Ramos.
Eles também apontaram a necessidade de serem protagonistas nessas ações. “Ninguém pode contar a minha história. Cada um, dentro de seus espaços, têm que contar as suas próprias histórias”, enfatizou Carliusa Ramos. Nesse sentido, destacaram a relevância de atividades como visitas, rodas de conversa e a produção de livros e vídeos para a partilha e a preservação de seus saberes, fazeres e histórias.
Reafirmando a relevância dessas atividades, a professora e artesã Roseni Ramos relatou sobre o surgimento da ideia do Centro Cultural Kiriri e da aquisição de equipamentos para a sua estruturação. “Houve essa necessidade de um local onde vamos expor nossos artesanatos e receber o pessoal de fora, com uma câmera e equipamentos para registrar esses momentos em que recebemos visitas e os momentos em que confeccionamos os nossos artesanatos”.
A produção artesanal e a geração de sustentabilidade e autonomia
A feitura de sabão artesanal pela comunidade quilombola de Barreirinhos foi o ponto de partida para a roda de conversa sobre os elementos materiais e imateriais e a geração de sustentabilidade e autonomia pelas comunidades a partir dos processos de produção artesanal. “Tem, nesse gesto simples, muita força de resistência”, comentou Alik Wunder.
Alik Wunder, que atua como professora na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em projetos de pesquisa e extensão junto a estudantes indígenas e à Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré, comentou sobre como as comunidades tradicionais e do campo ensinam sobre a importância da geração de sustentabilidade e autonomia a partir da preservação de tecnologias ancestrais como a produção de farinha de mandioca e de sabão artesanal. “Felizmente temos cada vez mais pessoas valorizando isso”, celebrou Alik.
A relação com a ancestralidade e a espiritualidade
Durante a oficina, algumas pessoas participantes também compartilharam sobre a importância da relação com a ancestralidade e a espiritualidade para a transmissão e a preservação de saberes, fazeres, histórias e tradições e para a realização de sonhos. Essa importância se expressou também na dinâmica de abertura e encerramento da oficina, que aconteceu a partir do toré, manifestação cultural que envolve tradição, música e espiritualidade e foi conduzida pelo pajé da Aldeia Ibiramã Kiriri do Acré.
A Aliança em Prol da APA da Pedra Branca
A Aliança em Prol da APA da Pedra Branca é uma organização da sociedade civil, fundada em 2017, que atua nos municípios de Caldas, Santa Rita de Caldas, Ibitiúra de Minas e Andradas, nas áreas de defesa ambiental, educação ambiental, agroecologia, cultura popular, turismo de base comunitária e conservação de espécies nativas.
A entidade tem por objetivo promover o desenvolvimento sustentável e solidário, o bem viver dos povos e comunidades, e a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas e dos bens ambientais e culturais presentes no território da Serra da Pedra Branca, Sul de Minas Gerais.
A Aliança é composta por diferentes organizações da sociedade civil atuantes na região, entre elas, a Associação Indígena Kiriri do Rio Verde.
Foto: Tatiana Plens