As férias e a importância do Brincar

Data da Publicação:

16/07/2024

Sabrina Pierangeli
Neuropsicopedagoga Clínica e Institucional
SBNPp 13909

Somos seres naturais. Em nosso dia a dia corrido, com os incontáveis compromissos em nossas agendas (e nas de nossas crianças também), acabamos nos esquecemos que também pertencemos à natureza. Cada criança que nasce é uma expressão viva da natureza em toda sua força e esplendor e por isso a criança demonstra tamanho encantamento por tudo o que é natural: a água, os bichos do jardim, as flores, além as manifestações mais comuns a nós, como a chuva e o vento.
Quando perdemos este encantamento? Ao contrário do que se acreditou por muito tempo – e alguns ainda creem – a criança não é uma folha em branco que temos que preencher, ou uma esponja que vai absorver tudo que lhe dermos. A criança é muito mais! Cada criança já nasce sendo um exímio explorador, um cientista nato e o mundo que a cerca é seu grande laboratório, de forma especial as relações com as pessoas e a natureza.
Diante desta realidade, podemos entender que o “emparedamento” cada vez maior a que nossas crianças estão sendo submetidas, seja pela sua própria segurança, seja pela necessidade das diversas realidades, traz como consequência um empobrecimento das experiências vividas por elas. E tais experiências são as bases sob as quais a construção do “adulto” se dá.
O brincar é o tão importante para a criança quanto o trabalho é para o adulto. Maria Montessori, grande educadora Italiana, dizia que “a criança constrói o homem”. Sim, a criança está dia a dia, hora após hora, em sua missão de construir o adulto que um dia será. Por ser essencial ao desenvolvimento da criança, brincar é um direito garantido por lei.
É no brincar, e de forma especial brincar “lá fora”, em contato com natureza, que a criança tem a oportunidade de desenvolver diversas habilidades (senão todas) necessárias para que se torne um adulto equilibrado e saudável. Desde aspectos como a coordenação motora, reconhecimento corporal, resolução de conflitos, lidar com riscos e desafios, criatividade, iniciativa, até os diversos aspectos cognitivos como linguagens, raciocínio lógico, atenção, capacidade de planejamento, flexibilidade mental, memória, inteligência socioemocional… isso sem falar nas diversas possibilidades que a natureza oferece de observar e descobrir, através de seus elementos e transformações aspectos sobre ciências biológicas, físicas, químicas e até matemáticas.
Você se lembra da sequência de Fibonacci? É um exemplo de matemática pura presente na natureza. Já observou o ciclo de transformação de uma borboleta? Ou a forma como as formigas se preparam para o inverno? São pequenas descobertas que podem ser feitas no jardim do condomínio ou na pracinha do bairro.
Isso sem mencionar os aspectos sociais desenvolvidos no brincar ao ar livre. Você já viveu a experiência de ir com uma criança sozinha em um parque? Se já teve esta experiência deve ter notado que, em pouco tempo ela “faz amizade” com outras crianças, logo um grupinho se forma e diversas brincadeiras são criadas. Por vezes nenhum brinquedo convencional é utilizado, apenas recursos naturais como gravetos, folhas e pedras. O que importa – e parece lhes bastar – é ter espaço e mais crianças.
Assim a criança desenvolve autonomia em suas relações sociais com os pares, tanto para criar novas relações, como para resolver possíveis conflitos que possam surgir. Desenvolvem diversas competências sociais e pessoais como autoconfiança, capacidade de fazer escolhas, tomar decisões, avaliar riscos, resolver problemas e autoconhecimento, pois vai se percebendo ao se relacionar com o outro e com o meio, além de empatia e sentimento de pertença.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatra e de diversos estudos realizados sobre o tema, brincar diminui a ansiedade e depressão infantil, os sintomas de TDHA, transtornos do sono e outros transtornos comportamentais, proporciona bem-estar mental, equilibra os níveis de vitamina D, melhora a atenção e foco, melhora o controle de doenças como diabetes, asma e obesidade.
E como se não bastasse todos esses ganhos, o brincar “lá fora” é uma alternativa barata, pois pode ser realizado em diversos espaços públicos, ou até mesmo no quintal de casa. Ao brincar com seu filho, além de garantir que ele tenha acesso a todos esses benefícios descritos acima, você também estará fortalecendo o vínculo entre vocês, ajudando-o a regular suas próprias emoções e criando memórias afetivas que ambos carregarão como tesouros, por toda a vida!
E então, vamos brincar lá fora?

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