Belo Horizonte, MG – A paixão pela arte, cultura e filosofia levou a jornalista e comunicadora social Stella Campos a trilhar um caminho inusitado: o do chocolate. Mais do que uma iguaria, para ela, cada pedaço representa uma história, um conceito, uma experiência sensorial. Assim nasceu a Lascaux Chocolates Rústicos, a primeira chocolateria do mundo inspirada na formação dos cristais. Como chef chocolatier especialista em percepção sensorial e sommelièr de chás, Stella criou uma marca que vai além da confeitaria tradicional e se posiciona como uma fusão entre arte e simbologia.
Cada chocolate produzido na Lascaux é único, assim como os cristais que servem de inspiração. Sem o uso de corantes artificiais, a empresa traduz a beleza da natureza em sabores exclusivos e autênticos. O conceito inovador chamou a atenção da mídia nacional, incluindo reportagens na TV Globo, e consolidou Stella como uma das empreendedoras que transformam o mercado gastronômico em Minas Gerais. Sua história é um reflexo do crescimento da participação feminina no empresariado mineiro, conforme apontado pela mais recente pesquisa do Sebrae Minas.
A terceira edição da Pesquisa Mulheres Empreendedoras, revelou que oito em cada 10 mulheres empreendedoras do estado têm no próprio negócio sua principal fonte de renda, sendo que Cerca de metade delas tem um faturamento mensal superior a R$ 5 mil e três em cada 10 empreendedoras geram empregos. O levantamento, feito entre os dias 10 e 17 de fevereiro de 2025, contou com 549 entrevistadas, das quais 55% são donas de microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP).
Os dados mostram um perfil consolidado: mais de 60% das empresárias têm entre 31 e 50 anos, a maioria é casada e sete em cada 10 são mães. Além disso, 41% dos negócios liderados por mulheres têm entre três e cinco anos de mercado, o que indica que muitas delas já superaram a fase inicial e estão em estágios mais avançados de desenvolvimento.
“A pesquisa confirma a presença massiva de mulheres maduras no empreendedorismo, que têm seus negócios como fonte de autonomia e independência financeira”, destaca o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva.
Mesmo com todos os desafios enfrentados para começar seus negócios, como a falta de conhecimento em gestão – apontado por mais de 60% das entrevistadas – ou a dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal – indicado por mais de 40% -, o estudo confirma que as mulheres seguem resilientes e inovando em sua jornada no empreendedorismo.
A digitalização dos negócios, por exemplo, é uma realidade para a maioria (73%) das entrevistadas. Três em cada 10 afirmam vender apenas por meio de canais digitais (site, e-commerce e redes sociais), e quase a mesma proporção combina loja física e canais digitais. “Isso demonstra o quanto as mulheres estão atentas às tendências de mercado e às mudanças de comportamento do consumidor, o que é fundamental para que seus negócios se mantenham competitivos”, reforça Silva.
Desafios para empreender
Entre os principais desafios apontados pelas empreendedoras ao iniciar o negócio estão a falta de conhecimento em gestão (62%), a dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal (46%) e o acesso a crédito (41%). Além disso, 58% responderam que não participaram de cursos, treinamentos ou mentorias para empreender, o que pode ser um fator limitante para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a gestão e crescimento dos negócios.
Outro dado que chama atenção é que 92% das empreendedoras financiam seus empreendimentos com recursos próprios, e apenas 40% tentaram obter crédito, sendo que 29% enfrentaram dificuldades como excesso de garantias e falta de informação sobre linhas de financiamento. “Esses dados são um alerta para a necessidade de simplificar processos burocráticos e ampliar o acesso a crédito, especialmente por meio de programas governamentais e iniciativas como o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do Sebrae, que ainda são pouco conhecidos”, aponta a analista do Sebrae Minas, Tábata Moreira.
Conciliar a vida pessoal e a gestão do negócio é outro desafio significativo, citado por 46% das entrevistadas. A maioria das empreendedoras (72%) têm filhos e mais da metade delas (52%) não conta com a participação da família no negócio. “Por isso a importância de políticas que promovam o apoio à mulher na maternidade. A oferta de mais vagas em creches e o estímulo a redes de apoio ao empreendedorismo feminino são essenciais para ajudar a aliviar essa carga”, ressalta a analista.
No dia a dia do negócio, as atividades mais desafiadoras para as empreendedoras são: realizar o marketing do negócio (68%), administrar as finanças (57%) e estabelecer metas e planejamento (57%). A inovação (46%) e a fidelização de clientes (41%) também são desafios relevantes, enquanto compreender o mercado (35%) e liderar equipes (24%) foram as menos citadas.
Redes de empreendedorismo feminino
Quando perguntadas sobre a participação em grupos ou redes colaborativas de empreendedorismo feminino, 92% das entrevistadas responderam que não fazem parte de grupos afins, o que pode refletir a falta de conhecimento, tempo ou oportunidade. “Entretanto, a participação nesses programas traz benefícios significativos para as empreendedoras, tais como networking, capacitação e apoio emocional, o que faz toda a diferença para o crescimento do negócio”, explica Tábata.
Ao mesmo tempo, um dado que chama a atenção é que 39% das entrevistadas responderam que promovem iniciativas de equidade de gênero, com destaque para parcerias, incentivo à capacitação e contratação de outras mulheres. “Tais ações fortalecem o protagonismo feminino, promovendo inclusão e desenvolvimento profissional, e contribuem para impulsionar o empreendedorismo no estado”, conclui.