Pandemia precisa de vigilância para chegar ao fim, diz pesquisador

Poços de Caldas, MG – O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) Tedros Adhanom afirmou, poucos dias atrás, que o mundo nunca esteve em tão boa posição para acabar com a pandemia. Apesar de não haver indicadores específicos para decretar adeus ao estado de emergência mundial, os índices atuais são os melhores até agora.
O Mantiqueira conversou com o professor Dr. Sinézio Inácio da Silva Junior, pesquisador da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e um dos responsáveis pelos boletins informativos sobre a covid-19, o IndCovid. Segundo ele, o avanço da cobertura vacinal, a descoberta de novos tratamentos e o surgimento da variante Ômicron, que é menos letal, reduziram a gravidade doença no mundo. Porém, mesmo assim, a mudança de status para endemia ainda é alvo de dissenso na comunidade científica.
“Depois de dois anos e meio de pandemia de covid-19 nós temos, naturalmente, uma expectativa de perguntar quais os sinais de que a pandemia está terminando. Ela já está terminando? Sim, está terminando, mas no que a gente se baseia para afirmar isso? Como é uma doença nova, ela tem que ser comparada com ela própria. Ou seja, quando você vê em epidemiologia uma doença e acompanha ao longo do tempo, por alguns anos, você tem alguns cálculos e técnicas para dizer: olha, ela está deixando de ser epidemia, está virando endemia, ou o contrário. No caso da covid-19, mesmo sendo uma doença nova podemos e devemos compará-la com seus números antigos e atuais e também compará-la com outras doenças infecciosas e transmissíveis das mais importantes”, explica ele.

Comparação
Dr. Silva Junior faz uma comparação entre a covid-19 e outras doenças infecciosas. “No Brasil em 2019, antes do início da covid-19, se a gente considerar preocupantes doenças como aids, tuberculose, dengue e gripe, em média, por dia, elas, juntas, produziam em torno de 4.600 casos e 40-41 óbitos. Hoje no início da última semana, nós temos a covid-19 ainda produzindo no Brasil em média, por dia, 6.500 casos e 58 óbitos. Então, podemos ver que só a covid-19, uma única doença infecciosa, impacta como essas quatro doenças já conhecidas e muito sérias, que já existem. Mas nós estamos controlando a situação, estamos evitando que o aumento de casos aconteça, e especialmente baixando o número de óbitos e internações”, pontua ele.

Minas e sul de Minas
O pesquisador mostra que em Minas Gerais, semana passada, tivemos uma média de 276 novos casos. E em dezembro de 2021, os melhores meses da pandemia, nós tínhamos em média por dia, 496 novos casos. “Em Minas Gerais, como um todo, diminuímos, no entanto, na nossa região sul, enquanto em dezembro de 2021 tínhamos em média 60-63 novos casos, atualmente estamos de novo em torno de 120 novos casos por dia, o dobro. Isso é uma preocupação, quer dizer que o vírus continua circulando”, manifesta o especialista.
No caso das internações, o professor diz que o sul de Minas, em dezembro de 2021, registrava cinco novas internações em média por dia numa semana e hoje estamos registrando menos de meia, quer dizer, a cada dois dias a gente registra uma internação. “Evoluímos bem e muito significativamente. Em termos de mortes no sul de Minas, em dezembro de 2021, em média, estávamos registrando um óbito. E semana passada não tivemos registro de média móvel positiva, zeramos a média móvel de mortes. No entanto, os casos continuam acontecendo e eles precisam ser diminuídos para a gente se prevenir e não acontecer novos óbitos”, salienta.

Convivência com o vírus
Dr. Silva Junior ressalta que nós vamos ter que conviver com a doença covid-19, mas não com uma epidemia. “Conviver com uma doença quer dizer que ela se torna endêmica, ela mora entre nós. Aí a questão que fica é: qual o número de casos de covid que a gente vai achar aceitável, vai impactar menos em saúde pública? Temos que nos preocupar em não haver mortes, ou haver em níveis muito baixos. Mas, enquanto o vírus continuar circulando é uma possibilidade ele sofrer mudanças e se tornar de novo mais preocupante do que é hoje. A ômicron, e suas variantes, é menos a agravadora de casos, mas ela é muito mais transmissível. É uma tática inteligente do vírus de se espalhar e nós termos esta relativa sorte dele ser menos agressivo, mas nós percebemos muito mais o efeito da vacinação. Então, nesse sentido a covid vai ficar como uma doença, como a gripe, que a gente convive ao longo do ano e em determinados momentos ela pode piorar”, diz ele.

O que fazer?
O que fazer então para que a covid-19 se transforme em doença que pode ser precavida e controlada? O professor conta. “E nós temos que fazer o que? Vigiar o vírus, sua evolução, para ver se ele está tendo mutações e elas estão se associando e se tornando mais graves. Uma preocupação é se esse vírus sair de nós, voltar para um animal e voltar pra nós, nos ameaçando de novo de maneira mais séria. E, claro, controlarmos a doença com a vacinação, fazendo campanhas periódicas. Estamos, sim, avançando, mas é preciso ter muito cuidado com os mais vulneráveis, que são crianças não vacinadas, pessoas com doenças crônicas, idosos com doenças crônicas, pessoas que passam por tratamento de câncer, que de alguma forma tem o sistema imunológico mais fraco. Temos que tomar cuidado para que essas pessoas não sofram o contágio e não desenvolvam formas mais graves da doença”, finaliza.

Poços
No Painel Covid desta quarta-feira (5), disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde, constam apenas três novos casos de covid-19, com seis recuperações e sete pessoas em isolamento domiciliar. Nenhum óbito registrado e nenhum paciente ocupa a UTI.

 

Delma Maiochi
delmaiochi@hotmail.com

 

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